quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Da libertação das químicas à ditadura cacheada.

Em 2015, quando eu resolvi me aventurar novamente no mundo cacheado,(eu tinha passado cinco anos fazendo relaxante)ouvi diversas vezes que assumir nossos cabelos naturais era um grito de liberdade. Não só isso, como também uma atitude política. Todos que estudaram história, no mínimo, possui um embasamento sobre o papel do negro na sociedade, de como foram arrancados de sua terra para trabalhar para o branco de forma escrava. E desde então, tudo que é associado a cultura negra – o cabelo, forma de vestir, as músicas, religião – não faz parte do padrão eurocêntrico. Ou melhor, até faz, o padrão do que não seguir, o que não ser. Colorismo está ai pra provar isso. Sendo assim, nós cacheadas e crespas – independente da cor – sempre sofremos com as odisseias capilares. Seja por zombaria por não fazer parte do padrão do cabelo liso, seja por falta de bons produtos no mercado nacional, seja por falta de representatividade, inúmeras razões. Com o movimento da aceitação, muitas meninas finalmente aceitaram suas molinhas, correram atrás de suas raízes negras – ou não – e começaram a passar adiante a ideia. O empoderamento da mulher cacheada/crespa ganhou força, nunca fomos tão valorizadas tanto por nós mesmas quanto pelo restante do mundo. E mesmo que ainda houvesse aquele grupinho pra tentar desencorajar, continuamos firmes e fortes na transição. O mundo parou para olhar as mais belas pérolas renascidas após meses com duas texturas. E assim fomos caminhando, desenvolvendo técnicas, trocando hidratações, tudo em prol do cabelo natural, saudável e belo. Ditadura? Se você entrar em qualquer grupo de cabelos hoje em dia – especialmente do low/no poo – verá uma grande massa crespa/cacheada participando. E é essa massa que vai empurrar você para um padrão. Toda sociedade possui seus padrões e nós, que lutamos durante tanto tempo para nos aceitarmos, estamos tentando nos encaixar em outro. É tanta menina se perguntando se está fazendo a fitagem de maneira correta, tentando não frizzar o cabelo,querendo day afters perfeitos, seguindo a técnica tal e condenando quem não segue, querendo conseguir o cacho perfeito ou ter todos os produtos que falam ser bons, que acabam se esquecendo do principal motivo de termos entrado em transição: LIBERDADE. SOMOS LIVRES PARA AJEITAR O CABELO DA FORMA QUE QUISER, ou não ajeitar. Não tente se encaixar num novo padrão, usar só produtos assim ou assado, fazer o corte em camadas porque disseram ser o melhor, finalizar o cabelo só de uma forma, cronograma capilar religiosamente… Use o que o seu cabelo pedir, seja adepta sim de uma técnica, mas adapte tudo se necessário para o melhor do seu cabelo. Afinal, ninguém o conhece melhor do que você mesma. Não se prenda a algo que leu ou viu em um vídeo, se aquilo não dá certo pra você, ou é muito caro, exige muito do seu tempo e dinheiro para pouco resultado… Pra que tamanho esforço? Pra ter o cacho perfeito? Cabelo perfeito é o seu cabelo saudável, livre. E você também.